Sempre quis fazer como nos filmes: aprender a ver pelo buraco da fechadura, na minha juventude, o que as meninas faziam no banheiro, e na minha meninice, como era tão diferente a minha atitude em relação aos outros - um vouyerismo latente nosso. Questionei-me inúmeras vezes, como não iria?, porque razão os filmes poderiam ser tão inverossemelhantes e falsos - tão mentirosos quanto um retrato; quase que um auto-retrato. Era cada vez mais explícito para mim que era simplesmente impossível poder observar através da porta. Como isso me irritava: não o fato de minha incapacidade de pós-ver o que se escondia atrás de um pedaço morto - no sentido biológico - e ao mesmo tempo tão vívido; irritavam-me as mentiras dos malditos diretores cinematográficos que conseguiam expor uma cena completa de algo além do alcance visual apenas com o zoom da câmera. Odiava saber que nunca ninguém conseguiria - e conseguirá - tal feito: odiava-lhes ainda mais.
Sentia-me frustrado com a idéia de que eu era pior do que um aparato tecnológico. Pior, sentia-me vencido covardemente pela frieza com que tratavam o zoom: lento, gradativo, aberto e simultaneamente microscópico. Como gostaria de ser um mosquito para poder pousar eternamente no meio daquelas fechaduras...e deliciar-me com tudo aquilo que somente eu podia ver. Assim como meus amigos, era extremamente fantasioso e possessivo. Queria tudo. O "meu" e o "eu" valiam para a vida do mundo.
Mas não, algo me incomodava e me punha sob o risco mortal de cair de meu posto: outros viam bisbilhotar a minha garota dos olhos. Enraivecia-me. Como pode? Porque eles conseguem e eu não? Não entendia a razão de ser inferior - era de fato.* Voltei-me a considerar a situação: mesmo sabendo da presença dos outros, reparava que seus sorrisos eram mais retos, suas gargalhadas mais escandalosas, enfim, diferentes. Como? como? como.
Depois de velho na medida do que passou – e inda novo na medida da Vontade – consegui compreender que o que víamos através daquela peça de madeira humanizada era o que queríamos ver. Partindo-se da consideração de que não se pode ver a cena por completa, fica óbvio dizer que o que será visto é conseqüência do bel-prazer do intruso.
)como narrador calado, porém onipresente e independente de meu deus criador, digo-lhes um ou dois segredos, dependendo do ocaso, que são mais importante do que o já mostrado. Trata-se de uma psicose nervosa ocorrida durante os parênteses anteriores. De fato, desde a abertura dos parênteses inicial.
o primeiro segredo é a falha, a eiva do escritor, marceneiro, que, enquanto escrevia penosamente - sofria incessantemente câimbras e dores em seu braço...exercício divino ou humano, que seja...dores que machucavam, mas que, em ato, nada muito no percurso mudaram - esse pequeno diário subjetivo e de validade nenhuma, fechara a porta de seu recinto. E o fizera sem aviso prévio, o fizera na calada da noite - aqueles que com ele moravam estavam na atemporalidade – da maneira mais estúpida: batera com vigor fálico a ponto tal de toar uma canção – aos acordados – ou um barulho – aos dormentes que relaxavam em seus colchões de penas ordenadas e que nunca receberam o toque do vento. Uma sonoridade indescritível que serviu como chamariz – cavalar e em demasia – para os que moravam consigo acordarem e tentarem entender o que se passava.
Os curiosos e os bajuladores correram como formigas que se escondem da chuva verãnal para descobrir o que havia de fato. Aí acontece a metafísica desta dissertação: cada um a seu momento espiava pelo buraco da fechadura a cena interna e presente ao escritor. O primeiro passo foi tímido, o segundo mais confiante, o terceiro, desavergonhado e claramente desrespeitoso – quem? – e assim eram os olhares.
,ele se molesta, ele reza, ele faz festa, ele solta fezes às, ele tapou o buraco, eu escrevia, ele fugia. As respostas para o que ocorria atrás da porta variavam de cada olho. Como, perguntariam os céticos, e Claro, perguntariam os indecisos, e ..., confirmariam, incisivos, os alguns viajantes que passavam a noite em sua casa.
Ainda não lhes foi esclarecido o segredo: aqueles que moravam consigo eram cegos no ócio e observadores dos mais apurados quando interessados. Morava no manicômio.(
)como autor, deus do mundo do não-não, o crucrilar é o processo do sucesso. O recital com a Orquestra é o insucesso dos outros. E eu perco quando fecham os olhos.(
*lê-se um borrão nesta região